SENEX ET CULPA
 
No princípio havia nada;
Nem tempo havia
E tempo não transcorria
E todas as coisas eram presentes,
Mas informes, presença vazia.
Depois fez-se lugar
E era possível aproximar
Sem no entanto unir,
Simplesmente estar
Sem existir.
Depois fez-se o verbo
E isso trouxe o tempo,
A forma, a ação,
O sim e o não,
E foi possível existir,
Unir e gerar.
Mas o verbo mandou tudo,
Até não mais poder,
E com o tempo envelheceu.
“Senex et culpa”, quis morrer,
Porém o nada já não existia.
E sofreu. E sofrendo
Passou-lhe que poderia amar
E foi, então, possível criar.
 
                                       23.09.80


Sugestão de leitura: "O Príncipe e o Bardo"