A POESIA NÃO SOU EU
 
A poesia não sou eu.
A minha poesia sou eu
Naquele décimo de segundo
Em que me concebo
Idêntico a mim próprio.
Um dia a gente olha para vida,
Diz “Coisa besta!” e se mata.
E então a poesia
É a chance que me dou,
Agora próximo do fim da noite.
Nunca pude escapar
À cisma de ser uma ameba,
Unicelular, puntual,
Sem demais perspectivas aterradoras
Em um universo de tudo em nada.
Nessa hora, do microscópio sideral,
Alguém espreita. Deus?
 
                                                           14.05.80




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