Corpo e mente de Teles Cândido 764
Minha cabeça está dentro da gaiola
E meus olhos vendados, fechados para o transcendental
E minha boca de dentes afiados, pontudos, rasgantes que dilaceram a carne
E os ouvidos lacrados para o infinito
Não sabem da sinusite, do olfato inútil
Completando e corroendo os meus sentidos
Que compõem essa minha cara de pau
E expõem esse áspero inverno prometido.
Minha cabeça está dentro da gaiola
Eu vejo um papel cair no chão do ônibus
É o jogo de luzes. Será ilusão?
Eu desenho um símbolo que juro desconhecer
É o dia mais normal e mais estranho de minha vida
Nada se compara; nada se equipara; nada remedeia.
Minha cabeça está dentro da gaiola
Meus pés inchados, estacionados na garagem
Minhas mãos e meus dedos já calejados estão no varal
E meu corpo já todo tomado
Ocupado ocupa o quintal
E o calabouço onde se encontra meu tronco
É a jaula onde vive o leão.