EU SOU O FEIJÃO
Sou uma simples semente
de origem caipira e pobre.
Dou-me bem em terras magras
sem me preocupar com o esterco.
Sou semeado em qualquer canto
até onde a própria vista alcança.
Em terras lavadas dos espigões
sou semeado em alqueires
pelos grandes fazendeiros...
Em pequenos roçados
pelos sitiantes... em fundo de
quintais, em lotes abandonados.
Sou de cova rasa feita de canto
da enxada ou de enxadãozinho.
Sou contado grão por grão que
cai na terra molhada, de três
a quatro por cova.
Sou tampado com terra macia
onde o lavrador fica preocupado
com o terrão em cima de mim.
Nasço ajoelhado, de cabeça
enclinada para baixo
agradecendo ao meu Criador.
Sou uma plantinha de estatura
baixa, com folhas bem verdinhas
em minha infância e na velhice
fico com a cor da terra.
Na colheita me malham com
varas verdes de ponta fina que
envergam com o duro golpe do
braço forte do homem onde
voam longe as bages, me esparramando
em milhões de grãos.
Sou transportado para os mercados do mundo inteiro.
Sou a comida do pobre e do rico.
Sou a vitamina do anêmico.
Sou o muque dos que enfrentam
o duro eito da exaustão do sol quente...
dos que trazem as mãos calejadas
pelo cabo do guatambu e até mesmo
dos que derramam o suor em cima de mim.
Não sou considerado o maná da vida e nem sou
tão importante como o arroz e muito menos
como o trigo que é o pão universal de todos
os dias, mas sou a comida mais barata do
pobre...Sou apenas uma simples e humilde
semente, sou o feijão.
Autor: Samuel Moscospki