Infância

INFÂNCIA

Há muito tempo havia uma infância.

Eu caminhava –infante – dono de mim mesmo.

Corria pelas alamedas do amor materno,

protegido do orvalho da solidão.

Eu, criança, subia em árvores,

comia frutos,

sujava as mãos.

Faz tempo. Era feliz.

Hoje há uma saudade que eu chamo de verdes anos

e uma árvore de concreto

que diariamente sou obrigado a escalar,

plantada por um homem de óculos que semeia progresso.

Absurdamente tenho medo.

Infantilmente tenho medo.

Medo de sujar minhas mãos,

medo de cair dessa árvore desfolhada.

No afã de ser livre, corro num passado longínquo.

Quedo-me, inerte, no leito da vida.

Silencio...

Hoje há uma criança que corre e abraça-me e

chama-me de pai e traz-me de volta pra vida.

Só assim sou salvo do devaneio.