FALSOS DEUSES

Muito fácil saber o que eles acham.

Muito difícil ver o que eles fazem.

Enquanto a guerra explode eles outras prevêem.

Enquanto os direitos são tirados, eles cantam.

Enquanto o mundo é mal feito, eles escrevem.

Não, não direi nomes.

Pois é assim que os falsos com suas falsidades se sucedem.

Vós sabeis quem são.

São aqueles que se limitam a dizer não.

A falar, cantar, gritar, deitar, digitar.

Como pode isto algo mudar ?

Como isto fará o homem se achar ?

Aceito que seja falado, contanto que seja aplicado.

Aceito que seja idealizado, contanto que seja usado.

Escrevo e idealizo.

O povo não atinjo.

Com medo de que digam que minto.

Mas até quando falsos deuses irão falar ?

Pergunta amarga que em mim torna a se revelar.

Serei eu ?

Um herói morto, um covarde vivo.

Para o caminho, dos deuses falsos, torto.

Eles se dizem, eles se criam.

Mas um sangue vai brotar, sangue novo vai nascer.

Um alguém algo vai matar,

alguns vão crescer.

Serei eu ?

Não podem mais falsos deuses

mudar vento, marcar tento.

Serei eu ?

Eu direi:

Se há uma geração que deve desfrutar

será a geração que meu filho vai morar.

Não serão falsos deuses a falar.

Será um falso civilizado a mostrar.

Agir, agir, agir.

Ou então

saberia eu falar ?

São Paulo, 17 fevereiro 1976

(adaptado)