Cópula poética
Quando estamos escrevendo
da esquerda para a direita
em movimentos suaves
acariciando o papel e fazendo
uns vais e vens suados,
realizamos uma perfeita
e penosa cópula assexuada,
onde quase unimos nossos sexos
o do poeta e da poesia imaginada,
que acabará fecundando em lexos
por uma gestação de risco complicada.
O poeta cansa-se e consegue nada,
após alguns esforços em vão,
descansa e tenta novamente a faina,
usando como membro a mão,
ereta com a pena em riste
embrenha-se no papel,
monte de Vênus virgem,
retorna em movimento e insiste
e consegue um coito realizar
embora no final sinta-se triste
faz a poesia engravidar.
O papel agora maculado
em denso descanso permanece,
antes virgem e fora fecundado,
espera um feto poético que cresce
em seu útero muitas vezes freqüentado.
O pai-poeta aguarda olhando ansioso
ao lado da deusa poesia prenhe no papel
que falta-lhe apenas um ajuste mavioso
para tornar a obra completa, legítima e fiel,
que é apenas um nome se soneto não fosse.
O batismo da poesia é antes do parto
este é feito pelo leitor quando a declama,
após este a puérpera poesia realiza seu fado,
a recém-poesia tem cara de quem a ama,
e não a do pai poeta que tanto penou e clama.