RELÓGIO DE PÊNDULO

Cinco da tarde.

Esquece teu pulso

de casa antiga,

o amanhã há de despertar

ao trânsito, às reuniões,

ao dia que não te viu de dia;

cedo ou tarde

[às cinco, no Japão]

acarinharei

o travesseiro

gigante em sono.

Cinco e quinze da tarde.

Esquece teu senso

de mesa familiar,

o amanhã há de contar

as calçadas corridas,

a forma de não achar a forma;

magro ou gordo

[Olivier ou Stan]

espero o afago

da mão da amada

rindo cinemas.

Cinco e meia da tarde.

Esquece teu simular

de fita atenta,

o amanhã há de abrigar

diversão nos parques,

os mais aflitos altos e baixos;

moços ou velhos

[Matusaléns ou bebes]

para o conto

do pêndulo lento

a fazer sala.

Quinze para as seis da tarde.

Esquece tua forma

magra-espartilha,

o amanhã há de assistir

as compras e contas,

o tempo pouco

para fazer mercado;

acompanhados ou sós

[Davi e Luiza]

nascidos da fome

ocupam lugares

nas cadeiras.

Hora do ângelus.

Lento,

no refúgio do tempo,

um relógio

[pendulando]

fala com os mortos,

na absurda altura das paredes

desse apartamento desconstruído,

a exigir, pelo menos, uma Ave-Maria

às seis da tarde

[seis da noite no Japão]

e pára

como se a noite ao pó voltasse.