FRIEZA

Na poesia das madrugadas me ofereces

sem sol palavras emboloradas.

Qualquer vida real inatingível

escapa. Onde vive o pastor dos dias

verdes, roupas no varal, vento fresco

juventude das flores, frutos sumarentos?

Trago-te em raios de luar, luzes néon,

bosques nevoentos, corações partidos,

laços desfeitos... e solidão, perfídia.

Montanhas sumiram no ventre planeta

solo plano horizonte sempre além... além.

O lago em que banhas o corpo excelso

é fonte que concede perfeição. Hesito

ante a fragrância estonteante ao teu redor, ante

desdobramentos espelhados nessas águas míticas.

Quero beber da fecundidade sempre pródiga;

voltas a mim o frio do teu olhar indiferente.

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