Confissão em Terceira Pessoa

Ele era um sujeito átono.

Seu nome era de tal atonia,

que se perdia e não ecoava

nem no seu pequeno quarto.

Caminhando só na estrada,

não viu as placas;

não prestou atenção no que diziam

e foi perdendo os acentos diferenciais.

Um nome sem sílaba forte

é como uma imagem do cotidiano.

Passa despercebido.

Depois de mil anos e mil léguas,

andadas ou não, vividos ou não.

Foi então e somente então

que ele a achou.

Ele achou o porquê da acentuação:

era ela. Sim, era ela.

Das palavras a mais bela,

a mais doce, a mais sincera.

Era bem mais que um acento

ou um complemento nominal.

Hoje ele caminha

e ainda olha alguns sinais

e se encanta com sua tonicidade,

mas não há mais procura,

porque uma palavra forte é toda uma frase

e uma locução verbal é mais que uma oração

Rafael Rossi
Enviado por Rafael Rossi em 01/06/2009
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