Confissão em Terceira Pessoa
Ele era um sujeito átono.
Seu nome era de tal atonia,
que se perdia e não ecoava
nem no seu pequeno quarto.
Caminhando só na estrada,
não viu as placas;
não prestou atenção no que diziam
e foi perdendo os acentos diferenciais.
Um nome sem sílaba forte
é como uma imagem do cotidiano.
Passa despercebido.
Depois de mil anos e mil léguas,
andadas ou não, vividos ou não.
Foi então e somente então
que ele a achou.
Ele achou o porquê da acentuação:
era ela. Sim, era ela.
Das palavras a mais bela,
a mais doce, a mais sincera.
Era bem mais que um acento
ou um complemento nominal.
Hoje ele caminha
e ainda olha alguns sinais
e se encanta com sua tonicidade,
mas não há mais procura,
porque uma palavra forte é toda uma frase
e uma locução verbal é mais que uma oração