A SEGUNDA EXPERIÊNCIA
obrigações, longe de parecerem obrigações,
tarefas de tarefas,
[irresponsabilidade por um triz]
e nós,
numa alegria de dar inveja à felicidade!...
[casamento de papel passado não é nenhum bicho-de-sete-cabeças]
o papel do marido não é só ser marido, o da mulher não é só ser mulher,
casar não é levar o amor a ferro e fogo,
é levar com humor a vida a dois,
com o mesmo humor de quem a nada leva a sério
[e nós, numa alegria de dar inveja à felicidade]
em mais um abraço nosso, um acontecer plural de casas,
onde
cônjuges garantem que nenhuma tarefa é tarefa ou obrigação é obrigação
[e nós, numa alegria de dar inveja à felicidade]
se aparas a grama, busco o rastel
se pintas paredes, pego o pincel...
[e nós, numa alegria de dar inveja à felicidade]
além de abraços, beijos incontroláveis:
e, cada vez mais casas,
e mais maridos, e mais esposas a funcionarem assiduamente
[e nós, numa alegria de dar inveja à felicidade]
vez em quando, ao acordar, um cigarro seu – queimado – sobre o tapete,
a tábua do vaso sanitário invariavelmente de pé,
quando sede, a geladeira aberta,
e a mesma luz acesa!...
[e nós, numa alegria de dar inveja à felicidade]
se a coisa apertar,
na mesa da sala de jantar, cortaremos os supérfluos,
perderemos passeios, teatros, cinemas, parques de diversões e jantares!...
se uma cria insistir em vir,
mais xixis, mais proximidade, menos supérfluos,
e, na farmácia, uma conta impagável em fraldas descartáveis
[e nós, numa alegria de dar inveja à felicidade]
enfim,
quando uma vontade de dar-nos algo bem mais do que só felicidade,
é definitivo:
casamento de papel passado não é bicho-de-sete-cabeças!