DUDU OLIVEIRA, por Nilza Azzi
O equilibrista despista
Não finge as borboletas
Numa noite maior que tudo
A língua que te assanha
Envolve feito fome...
Delícia
Quem sabe da moça que ria
Ou quase ria...
E falava nas pausas de um silêncio bemol
Para mergulho sem venda
Quem sabe viver de não se apaixonar...
Rindo é que finjo Musicanção
Sol solidão
O risco admitido da felicidade
Por um triz
Anseio a medida
Contida no que desconheço
Luz cúmplice secreta
Redunda a voz do poeta
Tua pele é tinta na minha pintura
Nua. Vestida de luz. Vive minha loucura!
A lei
A ação
O nada
Unidos passos rumam ao drama
No estranho encaro a minha miragem
Voa o sábado Sai o domingo
Numa escultura de ar
O fio da dor resiste no poema
Minha natureza é seguir o sol
E andar nas pedras
Quando estava preso a minha cela perceptiva
Li no Livro das Ignorâncias
Um sem mim que berrava
Que não é análogo
Quem violou o jardim?
Sequestrou a camélia?
A lógica sustenta a fábula
Vento lento
Você é o ímpeto
E o sacrifício
É o que vence
Mas não cruza a linha
E tua pátria, esta puta
Que se vendeu aos sórdidos
O silêncio para além da angústia do grito
Lambuza E abusa Amantes sem véu
A prisão dos desejos concedidos
Um silêncio que anseia pelo fim de tudo
O desejo ficando velho
Cisão da energia em acúmulo
Tecendo ao gosto de suas bulas poéticas
Logo, opor é falência
Incoerência da lua
Todo prazer é mágico
Todo devir é trágico
Sumindo num mundo
E o olho fez-se vista pela primeira vez
Ampara com a firmeza dos errantes
a casa, o acaso e os ruídos
Moinho que come as luzes da noite
O lobo não é bobo
Afaga a criança
E deseja bom dia
Para te amar sou rústico
Para te libertar sou cárcere O mar é curto
Fui às ruas pesar os poucos anos
Fazendo a feira para adiar a fome
Conter a ultima gota do rio
Um relógio que encarcera a história
O rosto exposto
O retrato
Razão e desatino, diante do obscuro
Fantasiando a sorte dos adivinhos
Um Cronus moderno Uma convenção
Cederia a ilusão do tempo
De um coração ateu No Limiar de Lyman
E meu quarto estava escuro
Que mal te consome? Einstein gargalha de mim...
A folha tranca e insiste
A moça dançou a ciranda
Saltou da varanda
E voou...
De almíscar selvagem com maresia de fêmea.
O sal da boca adivinha estrelas
Encharcado nos teus silêncios Para te imaginar
Rasguei os sonhos Como a paixão tatuada
Riscada à fogo em mim
Casando significado e signo
Recebe o perdão da manhã
A luz é uma nesga gótica A praga do amor é uma droga
E o beijo convertido em cilada
A fêmea marca o terreno Alguém falha, e daí?!
O rato roeu a verdade
Uma oração ímpia
No Limiar de Lyman
O agora esvai infinitamente
Quis silêncio Bastava a poesia...
O óbvio fugiu dos olhos
O desejo é a rota da passagem
E o curso das vertigens; Houve um tempo
Que lia poesia nas nuvens
Assim, encharcado de tua ausência
Abraço teu cheiro no travesseiro...
Quem fez a luz era bem velho
Aos parvos não ofereça réplica
Tanto amar
Que o amor gasto
Seja reposto
E mais amar
É o sal que cura A lágrima que percebe
O desejo feriu os olhos E as almas estavam nuas
Despossuídas Num claustro de silêncios
E perderam-se do sonho Blá, blá, blá e filosofias...
Antes de sentir, sabê-la Queria olhar
Passo horas violando o perfeito
Ofereço meus desertos
Minhas jóias são feitas de seixos
Do cascalho que se depurou rolando nas pedras
Pacientemente, sentindo o tempo passar
Desaforismos Do medo do medo
Sentido no vazio
Quando a alma grita... Seu olhar é meu tormento.
Um enigma, meu alheamento... Embora pareça Helena
O senso cansa do sonho vencido
Ainda quando chorastes sozinho...
Na luz arredia de um dia breu
Quando retorno de um medo profundo
Vem passear comigo Não chame o final da luta de paz
Trago os cravos Guardo a trova E calem esta reza tonta!
Retalho pálido é certo Na alma de um retrato
Mito e cilada Inventou o tempo
A carne rota
cala a boca
pulsa, pulsa e trai
Quem te arrasta volúpia e indecência
E te devolve casta?
Preso aos ardis que o destino trama
Nossos tesouros somam nada
E nauseado na alma de um horror manifesto
Ironicamente na sala de estar
A vontade era uma direção
A carne anseia a folia dos sentidos
E assim submetida, palpita
O brusco tocou o tosco E tornou-se rústico.
E me perco no traço Para amanhecer
Quero uma lição de pedras A dor largou do mistério
E toda a luz
Contida na madrugada era um nada,
Uma gota do crepúsculo
Manchada de amanhecer.
A poesia incontida e indomada,
Flutuava nua e devassa
Prenhe de saber
Quando amavas e corrias o risco
Que andava esquecido numa nuvem da memória
Nadar e aprender nas marés
Construída no traço Resumida no tédio
A reverente irrelevância
Que habita os despojos
A sabedoria colhida no seio
untado de néctar e pólen
E sendo dois, quem eu sou?
A transcendência do verbo
Ser eu
O vão
E sendo eu o vago
Serei inadiavelmente eu
O vasto E um enigma inusitado
Santa cruz Quanta dor
As línguas vadias
Trazem o arrepio
Num toque rápido
Quero este amor inocente
Esta dor já doente Neste ódio bom...
A lágrima incerta ignora
Clama o amor mundo a fora
na saudade que grita e você não vem
Sofria o ter e não tê-la Ainda era pequeno
E não somos justos
Dever de ver A réplica muda da solidão
O amor passional é um vício Na alma do teu azul infinito
É o seu gozo baldio, assim sem nexo
A língua acesa se declara Tesa espalha num mergulho
Adoça o fel, o mel do inferno Vertendo o vasto no vício
Qual parte minha haverá morrido?
Porque és a hora, o rumo e o espaço
Quem faz nascer os astros no infinito
À flor da sua pele, eu sou a chaga
O fusco cuja luz jamais se apaga
Poesia leio no arrepio
Vertendo o desejo imaturo
Seminal como um buraco negro...