O VISITANTE IMPREVISÍVEL

... o amor,

quando é amor,

chega como ondas.

O visitante imprevisível,

resfria os pés quentes

e cria vitrais na areia;

impossível não gozar espumas,

pois o amor,

quando é amor mesmo,

chega chuáchuado as luas

improváveis dos calendários,

a frieira nos dedos molhados

pela imobilidade das conchas,

a perda do rumo dos barcos

no pescado seco da rede.

... o amor,

quando é amor,

dá de chorar aos mares.

Esse visitante inesperado,

de peito nu pelo sal

dá de mamar aos peixes;

a tarde fria recolhe a tempestade,

pois amor,

quando é amor mesmo,

parte para morrer de filho

no aborto da maré vazante,

limita o meteoro da constelação

no pedido dos brilhos caídos,

e os afogados esgotados

nadam até a exaustão.

... e, por amor,

enquanto o amor sobreviver,

um corpo boiará vivo nas praias.