O COMPARSA DO INFINITO

amada única,

teu olhar, ainda sobre a cama,

de pálpebras dengosas

me vê qual um raio-x.

Sabes todas meus males

de corpo e de espirito...

assim mesmo acordas

como quem busca explicações,

para tatear-me com mais carinhos

feito de manhãs, de tardes ou espantos.

amada única,

teu olhar, ainda de noite antiga,

de uma palidez tingida

me reflete felicidade.

Conheces todos os lares

onde vivi e adormeci...

assim mesmo remoças

como quem cedo esfrega olhos

para que eu amadureça no embalo

dos teus dois braços em forma de berço.

Amanhã,

se eu me encher de rugas ou olheiras

jamais direi que foi falta desse comparsa

do infinito que me remoçou na euforia dos eleitos,

da paz que deu morada definitiva ao meu olhar,

mesmo cansado

de acordar adolescente de ansiedade

só para ver teus olhos atentos,

amada única,

dengosos, como fachos de luz em mim,

me fitando, como se rezasse, para curar-me da insônia.