Sei lá.
Sei lá, só sei que quando me falam de Camões, frases decassílabas e rimas perfeitas, lembro-me de suas rimas tolas que para mim são perfeitas, de seu sorriso que tantas vezes é contraditório à seus olhos sérios. Seus movimentos de antíteses que me deixam corroída por não conseguir decifrá-los. Suas palavras que mesclam dores e prazeres, paradoxo puro susurrado ao pé do meu ouvido. Arrepio-me.
Você adentra minha alma como uma espada no peito de um herói cavalaresco. Mas eu sou a heroína... que te vicia. Que se mata por você diariamente sem você ao menos notar.
Sou sua propina, trocada por goles de whisky. Me transformo na gota esquecida ao fundo do copo depois de uma noite com seus amigos de mesa de bar, no meio dessas conversas desconexas [que você faz uso para esquecer a complexidade do mundo] eu não tenho lugar. Eu sou sua complexidade mais avassaladora, e essa verdade me dá um prazer tão sadio na hora em que fecho os olhos para sonhar, para sonhar que seu sonho é meu, que seu sonho é só e somente eu.
Tantos dias acordo sem sair do lugar, viajo em pensamentos para te atormentar, para te fazer não esquecer de mim.
Portugueses viajaram mares e atravessaram tormentas, e o seu dever é apenas me amar. Só isso perto da imensidão do mundo. É meu único desejo, e mais egoísta (eu sei), mas só quero ser amada como criatura que sou, e não como idéia do que poderia me transformar. Não, as pessoas não mudam. Apenas se remodelam para se encaixar. E você tem que se modelar à mim, a minha forma... Pois cansei de sempre ser o encaixe da peça, e não a peça à espera do encaixe. E não precisa ser perfeito, pode tocar nas pontas apenas, ou se enroscar por cima.
É tudo e somente o que lhe peço. Se for muito, me desculpe...
vou chorar à beira de outro cais, prezando a volta de outro marinheiro.