DUCHA
É hora de lavar a alma,
e, de contrapeso, o corpo!
A chuva
cai dentro de casa
para nos molhar sem roupa
e, de preferencia, sem vergonha!
Ah, quanta sedução líquida,
escorre entre tuas pernas
construídas num quatro,
enquanto as minhas, qual escoras,
te equilibram degraus em graus.
A chuva,
desaguada por nós,
de enxurrada, nos limpa de silêncio.
É hora de gritar para o vizinho sentir
que o prazer de estar junto não é um acaso.
É hora de expor essa nudez, pura e feliz,
no varal das toalhas molhadas, com monogramas.
É hora de perder o medo do desequilíbrio
desses braços ensaboados por tanta e tanta segurança.
É hora de umedecermos os panos de chão
até o último respingo dos suores transpirados em exaustão.
É hora de deitarmos oblíquos ao léu do espaço
sem hora de línguas, sem hora de lágrimas, senhora excitação!
Amanhã,
de casa lavada,
alma e corpo estarão
puros, batizando pagãos.