O DIABO VERMELHO CONTRA O ANJO DA MORTE
Desespero:
a paixão acabou!
A vontade de falar trancou a boca
mesmo com um desejo de beijar insano,
não vou mais questionar olhar só por olhar
mesmo na procura do sonhar já profanado;
o sono jamais acordará
descansado nos fins-de-semana
mesmo com o hálito da pasta de dentes.
Constatação:
a paixão acabou!
A ansiedade de gritar calou a voz
mesmo com a língua falada nos cotovelos,
não vou mais despir a roupa da alma perante
mesmo se daqui por diante a nudez vencer;
o hábito de ser cabide
conformado em tirar peça a peça
não despirá as malas após cada viagem.
Do que adiantaria comprar roupa nova
para vestir a nudez tão antiga?
Do que adiantaria escovar os dentes
para dar beijos de mentira?
Suicida, a paixão
jogou-se do alto de dois edifícios:
uma construção inacabada!
Na queda da queda,
um anjo de dentes amarelados
como os seus, após a pipoca doce do cinema,
resolveu amparar a sensação de abandono
da paixão suicida espatifada na calçada
do ar ao chão, andar por andar,
até os breves cacos de vidro.
No desespero do chão,
o amor, com cara de anjo maduro,
salvou do desespero os apaixonados de pouca idade
e, com suas asas envergonhadas, subiu ao céu avermelhado.