POEMA PARA A TERRA E O MAR

Amada longe,

estou distante da tua terra

e com saudade de toda maresia.

Aqui, tão distante,

nem eu mesmo saberia

o quanto tua ausência falta me faria.

O cheiro desta terra sem raízes

fez com que, dos meus olhos turvos, céus caíssem

só para que eu reaprendesse abrigar guarda-sóis

como se, no dia da partida, a nuvem ausente

voltasse a chover por todos os distantes.

Aqui, tudo tem gosto de nada!

E, pela absoluta necessidade de estar de pé,

voltarei com um ares saudáveis de ter ido

comer um acarajé malfeito, frito no sul,

saudoso da Bahia cheirosa de amor.

Jamais esqueci de ti, enquanto perdido.

E, juro, fiz de tudo para ser-me lembrado!

Mas, o meu bairrismo, revelou-se presente

quando eu te provava sem o gosto do dendê.

Comia bolacha de água-e-sal todo o dia

com uma ausência doida da manteiga de garrafa.

Colocava o capote para o frio toda manhã

com vontade de ficar doente só para ter teu dengo.

Brincava bem pouco com frios amigos ralos,

louco para chamar teus olhos cúmplices para perto.

Dormia como quem não precisasse de amante,

doido que o telefone falasse tua voz para poder calar.

Amada longe,

agora tão perto,

as malas estão chegando.

Atesto, para todos os fins,

que parti para o distante

sem te ter desamado.