Sereias
Me lembro perfeitamente,
De duas tias encalhadas e ressentidas.
Ficavam à espreita no fogão à lenha,
Conversando em códigos e sinais estranhos.
Nunca soubemos do que falavam.
Já se foram a algúm tempo.
Mas lembro-me de seu olhar desesperado,
De suas malhas jogadas sobre os ombros,
E de suas alturas um pouco anormais.
Quando criança queria entendê-las,
Mas nunca deixaram chegar muito perto.
Eram cuéis nas observações,
Especialmente se alguma moça se perdia.
Havia reprovação e prazer na fala.
Provavelmente não eram felizes.
Talvêz por isso perdiam,
Tantas horas desfiando o rosário.
Morreram, mas não houve chôro.
Acho que por serem tão alheias.
Sentia-se um suspiro de alívio,
Quando elas foram enterradas.
Eu fiquei no meu canto,
Querendo uma resposta convincente,
Que me justificasse a existência dessas almas,
Que ninguém quis abraçar.
Hoje acho que entendo um pouco.