O miserável gênero humano

Por que você não se livra de mim?

Estou em qualquer lugar onde se anda

se come e se morre, onde se faz a sombra.

Eu não sou a luz nem o dia,

nem sou fogo ou perfeição.

Um macaco dependurado numa cruz

pensando ser um sangue derramado

a razão para tantos flagelos.

Eu não sou cavaleiro, não resgato princesas,

não pinto nas paredes da catedral minhas

mãos sangrentas, nem recomendo

morrer por uma causa justa.

Porque a vida começou torta

e acabará torta como o caráter, o gênero humano.

Não sou um bárbaro louro e estúpido,

ou um cruzado de pouca moral,

ou um pornográfico arlequim

transformado em cubos

e achatado numa tela.

A maldição bidimensional.

No fim sei que é eterno esse mal estar,

essa dor de barriga, a náusea, o vômito.

Porque criações são perigos eminentes,

dotados da qualidade do espírito suicida.

Maldita balada para crianças mortas,

maldita lembrança que corroi como cancer,

bendito seja o sono, a réplica, a cópia, o despojo.