ENCHENTES
As nuvens correm secas
Sobre a terra seca,
O rio seco e o mar revolto...
A esperança do sertanejo
Trafega naquelas nuvens.
Deus, são José são pais seus,
A esperança impregna-se
Na nunca morte de um deus em matá-los...
Se há seca: há a esperança em deus!
Se há água cuspida das nuvens...
Águas que destroem moradas, inunda, mata o feijão,
O milho e arroz...
... Ainda assim contemplam nuvens e céus,
Agradecem ao seu deus
Diz ser tudo obra e vontade sua,
Por mais que morem sem roupas
E comam lama!
Afinal, ainda resta o pasto verde
Pro gato matar a fome e morrer
Pela mão do homem,
Pra no seu estômago morar!
Para o sertanejo, não basta nada!
Que destrua ou construa,
Deus é sua morada!
Esquecem que a grande água derramada
Onde a mágoa que não é chorada
Com grandeza aclamada,
É culpa do perverso homem
Que pela fome do que consome:
Esquenta, aquece,
O verde mata...
... Horripila, efervesce,
Traga e levanta nuvem negra...
... Estraga, suicida-o: se morre no que se mata!
Torna o rio sujo e a mata amarga!