Abstração
Dos lábios escorrem feitiços, espargem orações
crescem-me no peito os dons, os desejos, as aflições
e as mãos em cerimônia anunciam destinos
O corpo pede tua boca, tua pele, teu desatino
Inunda-me a alma
num êxtase mágico, vulnerável
divido-me em duas: alma e ser flutuante
converto-me em magia, inominada, abstrata
torno-me a fina flor dos meus próprios sortilégios...
Flui-me a emoção e a garganta, entorpecida, silencia.
No fundo insurgem encantamentos,
os deuses içam as velas do meu destino
e, com o vento fecundo, evoco a tua aparição,
em longínquas e extremadas sensações...
Deságua-me a ilusão dos teus azuis,
todas as essências de ti...
Numa dança mágica de sentires
sobre o mar do meu coração
a tua alma, minha doce quimera,
vagueia lenta e acende-me o sol dos dias.
No ventre umedecido, deita-te, lento, feito estrela, lua, astro...
E depois,
desvanece pouco a pouco a tua forma.
Perde-se em mim...