NÃO PRECISAMOS DO AMOR

           NÃO PRECISAMOS DO AMOR

Não. Não precisamos do amor.
Desse não...

Não precisamos do amor que fere,
que causa angústia,
que escraviza,
que tira a harmonia,
que nos lança em trevas de desequilíbrio,
que nos faz viver de migalhas,
que implora atenção,
que não é abraço inesperado,
que não é presente sem data marcada,
que não é beijo que preenche,
que não é orvalho sobre a relva,
que não é bálsamo, êxtase e alegria!

Não precisamos do amor
que navega em falsas promessas,
que cria expectativas vãs,
que pretende ser sempre primavera e foge dos invernos,
que é egoísta e não divide momentos,
que falha de propósito,
que decepciona,
que trai,
que não respeita,
que invade sem pedir licença,
que se esconde e se imiscui,
que não se engaja,
que não assume,
que não pondera sobre liberdade,
não compreende,
não é generoso,
que se torna fim em si mesmo e não processo,
que se lança ao futuro e não se aconchega no presente,
que sacia os desejos do corpo mas não os do coração,
que rechaça imperfeições,
que debocha,
que cobra mas não dá,
que não zela,
que não constrói,
que é exercício de sedução mas não é conquista,
que é vaidoso,
que tem vergonha,
que não tolera,
que não revê,
que não sabe pedir,
que não se renova a cada instante,
que depõe armas mal começada a luta contra empecilhos,
que não é compartilhado...
Que é solidão e exílio,
Que viola a paz.

Não precisamos do amor que nos rouba de nós mesmos.
Não precisamos do amor que não é semente mas erva daninha.
Não precisamos do amor que é vício e teimosia.

Que venha o amor que soma,
Que admira o seu amor,
Que o quer de verdade!
                Íntegro,
                Intenso,
                Intimorato,
                Inteiro,
                Companheiro.

em 23/12/2005