LEMBRANÇA DAS MINHAS GERAIS
NALDOVELHO

Tempo das águas paradas,
Lagoa dos Inclusos,
noroeste do quase nada.
Velho casarão, beira da estrada,
e no fundo do quintal um rio;
peixe de couro, sem escamas
e o velho Nicolau dizia: dourado!

O cheiro de zinabre,
alambique, aguardente,
pequenino já gostava
de veneno de serpente,
e Manézinho Araújo,
lá do fundo do engenho berrava:
cuidado menino, isto vicia!

Trilhos que sangram cidades,
rede ferroviária, Maria Fumaça,
Recreio, Leopoldina...
E eu dizia: Vô Salvador!
Quando eu crescer
vou ser maquinista.
E ele a sorrir dizia:
cuidado menino, dormentes de trilho,
sangrar as Gerais...
Isto vicia!

Tempo das águas paradas,
Lagoa dos Inclusos,
noroeste do quase nada,
caminhos sangrados, entranhas,
lembranças das minhas Gerais.
NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 24/05/2009
Código do texto: T1612539
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