ELE E EU
Houve um dia em que ele acreditava,
dias em que se ajoelhava e rezava de olhos fechados.
Houve um dia em que ele desejou,
logo, dias muito depois, percebeu que desejou errado.
Tento conversar com ele, mas não consigo encontrá-lo.
Sei que está lá, mas em que canto desse quarto em inédita forma geométrica?
Às vezes me pergunto por que insisto tentar comunicação se nem sei o que dizer,
não tenho discursos prontos,
não tenho coragem o bastante,
não tenho conhecimento suficiente.
Houve dias em que ele se encontrou completamente só
segurando a mão de sua mãe e ouvindo a voz de seu pai.
Ele sabe quem ele é?
Houve dias em que ele chorou e logo secou os olhos e os lavou para não perceberem e não perguntarem nada.
Houve dias em que ele desejou morrer, dias em que escutei segredos íntimos, dias em que presencie caos.
Às vezes, sinto-o,
mas deve ser apenas uma sensação sem noção,
sem explicação, sem emoção, sem coração.
Hoje escrevo coisas que não sei explicar,
coisas que nem sei por que escrevo.
Hoje ele tenta me encontrar.
Hoje nós temos vontade de viver.
Hoje sabemos que somos fortes, mas sem forças para se levantar.
Hoje ele não chora mais, acho que é uma questão de aprendizado, de evolução.
Há horas em que ele tenta voltar no tempo, logo arrumo um jeito de mostrar o quanto está sendo ridículo.
Há vezes, tento fugir do presente e ir logo para o amanhã, mas sou barrado, às vezes logo, às vezes tardamente, por ele cujas palavras me orientam dar um passo por vez.
Hoje pegamos fotos em preto e branco e enxergamos todas as cores nela.
Ontem tiramos uma foto colorida em alta qualidade e não nos reconhecemos. Estamos sem vida, sem luz, sem cor alguma.
Há muito tempo, eu me perguntava quem era ele e hoje ele se pergunta que eu sou.
Agora...
não sei aonde isso vai parar, não sei o porquê deste texto, não sei...
Simplesmente sei que preciso saber, que preciso seguir em frente.