O MEU SILÊNCIO
Fui caindo no silêncio
como quem mergulha de noite
para uma piscina invisível, lá em baixo.
Foi como pular duma prancha, ás cegas,
para uma água escura onde não chegava.
Firmei o corpo, preparado,
para um impacto que não acontecia.
A elegância do movimento sumiu
quando os músculos gritaram dúvidas
á eternidade imensa, intranqüilos,
e da queda sobrou apenas a angústia.
A suprema angústia de cair sempre,
numa vertigem de saber-me despencando
sem saber até onde ou quando.
Sem pontos de referência
capazes de satisfazer a razão.
Depois, os gestos instintivos,
dum arrependimento sem lugar
perante o irreversível.
E finalmente, o silêncio chegou
num estrondo de carne castigada
e respingos de prata.
E o silêncio não fez sentido.