Tela do pintor russo Nicholas Röerich - " SADKO"
Fumo...
Passos na escuridão em busca do despertar...
Tudo emudeceu, a melancolia já não cabe.
Flutuam pingentes e algodão, antes ouvido e cheiro.
Esquecido que ela é de plástico
O jardineiro rega a flor aos pés da cruz,
Como a dizer: - tudo isso que amei jamais pode morrer.
A grama sobrevive à lacuna do frio,
Visível esterilidade do ar em adeus comprimido...
Cachimbos respiram versos foscos.
Sombra e ataúde se identificam com o chapéu de palha.
Linho branco desfila bandeira e pés subterrâneos.
Almas banidas balançam em lágrimas carpideiras.
Não há mais nome ou face, apenas quietude e lembrança.
Legado que a ninguém coroou nem as flores nem os espinhos...
Passagem de medo e silêncio, grito e barqueiro.
Entrega a moeda e os frutos para suster as ilusões,
Persegue a fresta entre os lençóis para encontrar a saída.
Pálido, pergunta: - Trouxeste a chave?
Para onde?
Em busca do despertar
tudo emudeceu.
A flor aos pés da cruz
jamais pode morrer.
À lacuna visível do adeus:
respiram versos, sombra e ataúde,
linho branco e almas banidas...
Não há mais lembrança,
espinhos, medo e silêncio.
Entrega as ilusões,
persegue a saída...
Para onde?
Meriam Lazaro
Obs.: os versos finais pertencem a obra de DRUMMOND:
- "Trouxeste a chave?" (PROCURA DA POESIA);
- "Para onde?" (JOSÉ).