O RETIRANTE   



 

Sob sol inclemente ele segue,
Cumpre sina de sede e inanição.
No embornal de pano, a tiracolo,
Leva o aceno, as saudades de casa,
A resignação de não voltar.
 

No olhar desalentado e seco
A paisagem é baça e febril.
O último açude dos olhos
Já molhou as rugas curtidas,
O corpo vincado e ressequido...
Em marcha, arrancado de seu chão.
Sem rota. Só.

Ah, ser tão nordestino...
Ser tão este o seu destino,
Que não vinga e que se vinga.

Flagelo da seca,
Que rasga, disseca,
Flagelo da vida...
Retira do retirante as carnes,
Os sonhos e o futuro,
A dignidade e o direito.

Seco.
Os ossos vivos
Tornando-se pó.



Tela de Cândido Portinari , "Os Retirantes".      
 
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 20/05/2009
Reeditado em 08/05/2012
Código do texto: T1603979
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