Flor de Melancolia
Melancolia, fértil oásis da poesia.
Ando só pela casa observando o vazio das ausências.
A saudade ansiosa do homem que ainda não conheci.
A pele enrugada, o dedo torto, os cravos persistentes e o latido do cão na rua.
Melancolia, herança recheada de detalhes.
A angústia casada com a paixão.
A falta de um sonho novo, de uma quimera...
E olho os desenhos que a luz pinta através das frestas da janela:
Uma bailarina, uma casinha de teto baixo e um machado.
Melancolia, planeta em que me descubro mais mulher.
E desejo vestir-me de pluma, andar de calcinha e encharcar-me de perfume.
Um banho de tira-teima pra espantar a certa...
Um banho de rosa branca pra ressuscitar a louca...
Melancolia, terra que desperta o valor das miudezas.
Uma poeirinha no canto de um móvel.
A desordem no quarto do menino.
As traças e suas camas na parede.
As taças sem licor e eu sem sede.
O corpo não suado.
O beijo não beijado.
O plano mal traçado.
O verso ainda guardado para o novo amor.
Melancolia, palavra nua.
O que somos nós afronta no silêncio.
Multidão a esmo, saga e dor.
Melancolia, abstenção do desespero.
Coisa morna que não fere, nem goza.
Palavra feminina no gênero,
Mulher é a amplidão!
Alyne Costa,
Ssa, 19 de novembro de 2002