Além do vidro

Meus sonhos atravessam
a empoeirada janela
espalham-se quadrados
libertos, voam ...
transgridem os pensamentos
volatizando o desejo.

O meu olhar atento
acompanha o ritmo da cidade que freme.
Teço conjecturas...
Observo ... penso...
Na diversidade de cores
nos cheiros e nos sons
que penetram-me belicosos.

Ao longe, deita-se o sol
esparramando sombras
do concreto urbano.
As andorinhas já partiram
aquela ruazinha perdeu-se
no aglomerado de passos apressados.

É quase Ave-Maria!

No mar, poeta solitário
dedilha sua lira.
Horizontais ... as calçadas são leitos.
Mortiços olhos fingem...
bendito fim de tarde
que encobre a solidão.
A cidade ilumina-se
distorcida pelos faróis
dos carros ... da opaca luz.
As imagens são fractais...
um quebra-cabeça
que nunca consigo completar.

É hora de saltar...