Involução
 
Sentada em um banco
de cimento
de uma praça quase
sem flores
penso em minha vida
na vida do outro
distante, quase invisível
que hoje comeu pedra
e me entristeço
não utilizo celular
não gosto de computador
e nunca me vacinei,
a não ser, quando criança
as básicas
penso no preço dos livros
e nos "Ebooks" ,
bibliotecas e livrarias
Será que a facilidade
e a beleza foram embora?
cadê o amor, a poesia?
onde vou estacionar o carro?
até quando usaremos um lápis
ou uma folha de papel?
onde será marcado
o número de cada um?
será que seremos um ser
que involutariamente
parou de estar,
porque...
"o sistema  saiu do ar"?
....
enquanto somos "modificados"
o passarinho continua
cantando sobre o fio de alta tensão...
 
*************************************************
 Gritemos, cultivemos, sejamos o AMOR! (enquanto há tempo)
:

Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante

...
Um  índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro
Em sombra, em luz, em som magnífico

Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio

 

(Caetano Veloso - Um índio)