"NOBRE MENDIGO" Poema de: Flávio Cavalcante
Nobre mendigo
Poema
De
Flávio Cavalcante
Sentei-me ao lado daquele pobre homem
De feição bonita, barba cerrada, negro cor jambo
Estava ele num ponto de ônibus
As roupas o marginalizavam
O cheiro horrendo, marcara presença intensamente.
Mas era um nobre homem nocauteado pelo destino
Ao me aproximar dele, disse-me coisas sábias
E me chamou a atenção:
Não tenho família! Marginalizam-me pela minha forma de vestir
Perdi tudo e todos. Ontem eu tinha tudo. Hoje não tenho nada
Não reclamo de nada. Não tenho teto. Durmo nas marquises das ruas solitárias.
Mas eu gosto da vida, exatamente por causa da dificuldade, que própria vida
Proporciona da gente viver. Excita ainda a estar animado e enxergar horizontes.
(Uma pausa também me chamou a atenção. Pois me fez pensar que por um momento aquele homem estaria possuído por um momento de tristeza).
Aquele nobre homem na pele de um mendigo, pra minha surpresa, deixara marcado mais uma vez, com seu vernáculo encantado e disse-me quase cantando:
“Sou igual ao sabiá
Meu canto pode parecer triste
Mas meu coração gargalha de felicidade
Posso não ter mais dinheiro para oferecer,
Mas eu sou amigo, pode confiar
E no que precisar pode contar comigo.
O meu cantar me encanta agora
Pois o canto é o encanto do passado”