Promíscuo
Negros, negros teus cabelos,
Em meus dedos, em meus dentes.
Negros olhos que me espetam,
Que me espantam de serenos.
Negra boca essa tua boca,
Que me come, que me beija.
Tuas palavras, todas negras,
Me devassam negramente.
Negra é a noite sem ti,
Sem teus pelos, sem tua vulva;
Negra vulva, negros pelos.
Onde estás no dia-não?
Só te vejo dia sim.
Me consome esse meu vício
De querer-te mais e mais,
De comer-te em pensamento,
Na tua ausência do meu leito.
Mas me abranda o sofrimento
A certeza inabalável
De tua volta, volta e meia,
Na ausência dessa ausência;
Quando o amar em pensamento
Se dissipa pelo rasto
E te como sem pensar.