Promíscuo

Negros, negros teus cabelos,

Em meus dedos, em meus dentes.

Negros olhos que me espetam,

Que me espantam de serenos.

Negra boca essa tua boca,

Que me come, que me beija.

Tuas palavras, todas negras,

Me devassam negramente.

Negra é a noite sem ti,

Sem teus pelos, sem tua vulva;

Negra vulva, negros pelos.

Onde estás no dia-não?

Só te vejo dia sim.

Me consome esse meu vício

De querer-te mais e mais,

De comer-te em pensamento,

Na tua ausência do meu leito.

Mas me abranda o sofrimento

A certeza inabalável

De tua volta, volta e meia,

Na ausência dessa ausência;

Quando o amar em pensamento

Se dissipa pelo rasto

E te como sem pensar.

Éder de Araújo
Enviado por Éder de Araújo em 12/05/2009
Reeditado em 14/05/2009
Código do texto: T1588960
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