O andarilho
Sempre pensara que fora a sua vontade de conhecer o mundo que o tornara um andarilho, mas eram em momentos como aquele que percebia que a solidão que sentia o deixava triste demais para reparar na beleza dos lugares que visitava. Lugares como o que estava agora, em algum ponto que nem lembrava o nome.
Era pelo que percebia, uma grande planície com pequenas ondulações e a forragem de uma espécie de grama fofa que crescia até a metade de sua canela. Entre esses prados, discernia claramente pequenas flores que cresciam em abundância pela grama e, na parte mais baixa, via-se um pequeno fio de prata que corria ruidosamente até onde a vista alcançava. Seria para ele um belo lugar, se a sua melancolia não o impelisse para que se afastasse dali o mais rápido possível.
Foi por essa pressa que estava, o único mal que não deve acometer um andarilho, que não percebeu a mudança na paisagem a sua volta, e, no lugar da grama e das pequenas flores, tudo o que se via eram rosas vermelhas que cobriam todo o chão.
Desorientado com as rosas, sem saber ao certo por que caminho tinha vindo o andarilho começou a correr para um morro que aparecia distante, na esperança de poder ver o caminho que devia seguir.
Chegando em cima do morro, só o que conseguiu perceber foi a mais linda e maravilhosa rosa amarela que já vira. Cercada de rosas vermelhas, aquela rosa amarela se sobrepunha as outras em vivacidade e exuberância. Seu perfume exalava um adocicado aroma que poderia acalmar o mais cansado e alegrar o mais triste dos homens.
Obcecado com a idéia de levar aquela rosa consigo, o homem agarrou seu caule e puxou-a com toda a força que tinha, mas logo percebeu que estava muito bem presa no chão. Sem abater-se com a decisão da rosa de permanecer onde estava o andarilho apenas pensava na companhia que teria em sua triste jornada. E quanto mais feliz ficava com a possibilidade de embelezar sua vida com a alegria daquela flor, mais puxava o caule cheio de espinhos da rosa, que a muito já havia aberto chagas em suas mãos.
E então, percebendo a dor, sentindo que a alegria já não ocultava o sofrimento da tentativa de levar à rosa consigo, ele a largou.
Como despertado de um sonho, o andarilho desceu lentamente o morro, com o sangue escorrendo de suas mãos, percebendo onde estava e como havia chegado até ali. Olhou para o céu, sentiu a brisa no rosto, e lembrou-se o que era ser um andarilho. Estar só.