L i b e r t o . . .
Eu vivo e contemplo a lua como um profano,
Cachimbando a ermo bem moroso,
Nos dias de frio ao de céu tenebroso,
Sou rico, sou sábio e ditoso.
Caminho solto, sem bolsos, matreiro,
Tenho no canto da viola a riqueza,
A Lua como companheira, amor pelas estrelas
E vivo sorrindo sem medo da pobreza.
Não invejo ninguém, nem raiva tenho, só amantes,
Nas entranhas do peito tristezas são sufocantes,
Em noites de trevas só penso em raios alucinantes
Às vezes nela, em seu olhar fascinante.
Enamorado, feliz, sou de muitos amores
Um servo do amor, garboso e audaz,
Da vida quero paz e sabores,
Sou tranquilo, charmoso e fugaz.
Tenho como meu palácio as longas ruas;
Passeio a gosto e durmo sem temores;
Quando bebo, sou rei como os poetas,
E o vinho faz-me sonhar com antigos amores.
Os degraus da igreja são meu trono,
Minha pátria é a brisa que respiro,
Minha amada é a lua ciumenta,
Minha vida é a mulher por quem suspiro.
Escrevo na areia minhas rimas,
Em paredes minhas trovas;
Como as aves amo as alturas,
Desdenho a morte e proclamo a sorte.