Tempo de valsa

Tudo o que gostaria de dizer,

O fabricante de valsas expressa,

Numa valsinha de piano velho.

Mecanicamente surgem pássaros,

De olhos bastante esbugalhados,

Por cantarem num falsete risível.

As valsas pré-fabricadas preenchem,

A lacuna do ouvido do vizinho de baixo.

Este dá com a vassoura no teto, e grita:

"Quando este inferno irá acabar?"

Então a valsa se torna furiosa,

Como um cordão carnavalesco.

É um dueto inusitado:

Um piano criador de caso,

E um vizinho atormentado.

O fabricante de valsas tem visões,

Um não acabar de fotografias.

Até os Romanov aparecem por lá.

E tudo entra na dança.

Tudo serve para ser processado,

E virar um belo angu musical.

Até o ponto em que música vira poema.

Aí o caso fica muito, muito sério.

O piano se traveste em pena,

E vai descrevendo sobre o papel,

Um amontoado de referências.

Num momento, chega a dar medo.

É tão profundo e requintado...

Mas depois, assim como veio,

A escrita se transforma em pó.

Por fim o fabricante se cansa.

As poses clássicas são cansativas,

Contorcem os músculos e se termina,

Nas poses mais exdrúxulas.

O apartamento fica em silêncio.

O fabricante vai até o parapeito,

E de lá contempla a metrópole noturna.

E valsas também servem para isso.

Cabendo no compasso, que mal há????

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 19/05/2006
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