Tempo de valsa
Tudo o que gostaria de dizer,
O fabricante de valsas expressa,
Numa valsinha de piano velho.
Mecanicamente surgem pássaros,
De olhos bastante esbugalhados,
Por cantarem num falsete risível.
As valsas pré-fabricadas preenchem,
A lacuna do ouvido do vizinho de baixo.
Este dá com a vassoura no teto, e grita:
"Quando este inferno irá acabar?"
Então a valsa se torna furiosa,
Como um cordão carnavalesco.
É um dueto inusitado:
Um piano criador de caso,
E um vizinho atormentado.
O fabricante de valsas tem visões,
Um não acabar de fotografias.
Até os Romanov aparecem por lá.
E tudo entra na dança.
Tudo serve para ser processado,
E virar um belo angu musical.
Até o ponto em que música vira poema.
Aí o caso fica muito, muito sério.
O piano se traveste em pena,
E vai descrevendo sobre o papel,
Um amontoado de referências.
Num momento, chega a dar medo.
É tão profundo e requintado...
Mas depois, assim como veio,
A escrita se transforma em pó.
Por fim o fabricante se cansa.
As poses clássicas são cansativas,
Contorcem os músculos e se termina,
Nas poses mais exdrúxulas.
O apartamento fica em silêncio.
O fabricante vai até o parapeito,
E de lá contempla a metrópole noturna.
E valsas também servem para isso.
Cabendo no compasso, que mal há????