PARQUE
Se te vestisses de folhas,
e te misturasses ao tom dos arbustos das árvores
e das bananeiras do parque,
e o nergume espesso e incipiente da noite
mergulhasse tua figura num indecifrável mosaico,
como se não fosses mais que um qualquer quadro
pregado a uma parede -ambos já sem importância-,
se claridade alguma, fosse de sol,
de lâmpada, de sorriso, ou mesmo
qualquer outra luz te revelasse
e tua forma fosse ficando a cada dia indefinivel,
e teus olhos paralisados se fechassem
indiferentes a qualquer movimento,
se teus dedos se tornassem galhos
e teus pés fincassem raízes,
e se a seiva que cai do teu corpo
umedecesse o solo em volta e alimentasse as flores,
se tua língua desse frutos,
se fosses berço de pássaros,
se em tuas costas coubessem cada uma
das gotas do sereno noturno,
e tivesses toda a epiderme tatuada
por corações a canivete,
e se de teus orifícios brotassem sementes,
e se em uma de tuas longas e ásperas mãos
um homem sonhasse construir um balanço
para brincar com seu filho,
se ficasses tão triste a cada outono
até que se perdessem todos os fios de tua cabeça,
mas revivesses gloriosamente a cada chuva,
alheia ao tempo que mata os homens
e te torna cada vez mais bela,
então um dia eu chegaria,
extenuado e febril,
e descansaria meu frágil corpo à tua sombra
e, sorridente,
faria de ti a minha única
e derradeira namorada...