Maestria
Não sei por que adulto pensa
Que tudo sabe e tudo pode ensinar
Quando toda emoção intensa
Só uma crianca pode naturalmente carregar
O tempo passa e vem a tal responsabilidade
Encher a vida de risos abafados
Cortar a alegria de existir pela metade
Encher a escrivaninha de papéis amontoados
Porque os sapatos que mais me agradam
Ja não cabem nos meus pés
Não posso mais ser fã de Hello Kitty
Senão de todo lado vem palpite
E porque já tenho marido
Não posso mais gostar de pirulito
Não posso chorar quando quero
Nem é adequado liberar o grito
E quando quero me aconchegar
No colo da minha mãe distante
Vem não sei qual noção me chachoalhar
"Recobre sua maturidade neste instante!"
E com o anos vem a mágoa
Pisar sobre o perdão
Finalizá-lo numa vala
E, por isso, solidão
E o que eu sei é que não sei de nada
Quando observo uma criatura colorida
De olhos azuis, cabelo laranja e boca rosa
Que ainda não precisa esconder uma só ferida
Que não pertence ao meu século
Que ainda não sabe como vai essa vida
Mas que por isso mesmo é o féculo
Da essência que me é tão remota e querida
Ela vem engatinhando
De sorriso desdentado
Com as mãos fofas cheias de areia
Sentar-se ao meu lado
A vida retoma o sentido
Arrependo-me de me adequar
Mas ela me mostra que o que está perdido
Eu talvez possa recuperar
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