A Lua e o Jasmim

Houve no Tempo uma flor branca que se abria só ao amanhecer

O raiar do dia mostrava a formosura de suas pétalas

E o seu perfume inconfundível era levado pelo vento além dos montes,

Além do mar

Além do dia

Noite adentro

O sol embevecido

Não via a hora de raiar

Mais calor lhe presenteava

A cada dia

E mais botões ela criava

E tornava a Terra um tapete de flores

E os caminhos, trilhas num jardim

Mas alguns galhos inertes submergiam nas águas transparentes

E num relance algumas raízes e pétalas fugidias partiam

E dispersas foram adiante correnteza abaixo.

E a noite escura e sem brilho, enciumada por tanta beleza

Escondida pela neblina da aurora tardia um dia aproveitou-se

E aproximando-se da flor branca lhe confidenciou:

“Se tu abrires tuas lindas pétalas em meu reino

Deixarei-te reinares para sempre”

E a flor branca vaidosa por sua beleza

E sabedora de que seu reinado na Terra era apenas passageiro

Querendo ser eterna

Aceitou ao convite da escuridão

E novo dia nasceu

Sem o brilho de outrora

Pássaros negros empoleirados sobre as cercas vivas

Nas beiradas dos riachos

Bicavam as flores mortas e murchas molhadas pelas

Lágrimas do orvalho da madrugada

E o Sol entristecido pela ausência de sua flor preferida

Ficou alguns dias encoberto pela dor

Seus raios se dispersaram e não havia calor

Nuvens grossas lhe escondiam os sentidos

Já a noite solitária

Ameniza a sua dor agora na companhia de uma bela flor

A Lua cheia de si, por sua beleza imensurável

Lança as suas pétalas em raios prateados

Sobre o planeta Terra que saudoso se perfuma todo

Para sair à noite na espera de sua eterna namorada.

(E das raízes e das pétalas fugidias que se esconderam

Nas corredeiras, surgiu uma fina flor,

Perene se alimenta do amor da terra

Da paixão das águas

Do calor do Sol

E pela saudade de sua mãe transforma suas lágrimas

em perfume de jasmim).

Robertson
Enviado por Robertson em 03/05/2009
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