SETE CIDADES DE PEDRA

Este é o Canto III de uma coletânea maior, que apenas aos poucos teria espaço para publicar. Na sequência, irá o Canto V, "A Camundonguinha". Rafael Teubner.

Sete Cidades de Pedra, noite;

Contemplo o amplexo dos astros,

Formando, não miríades, mas uma só

E infinita constelação.

Noite, que iguala o Universo

Definível em seu bojo e ao mais

Remete-nos apenas em anseios

De viajar por entre nebulosas,

Por entre gigantes vermelhas

Ou dobras do Espaço ou frinchas

Para além da ficção proposta.

Noite, repositório de todos os soluços

Dos que regressaram da viagem

Insana, impregnados de saudade,

E dos suspiros e acenos flébeis

Dos promitentes à nova empreita.

Noite, porto não bem balizado

Dos Ulisses de todas as dimensões

Do viajar, dos Sindbads perenes,

Inquietos, traçando a nova rota;

Dos piratas sem pátria e sem paz;

Dos Vascos da Gama que há em nós,

Compulsivos nautas do além mais.

Noite, leito de nostalgia dos de volta

Antes da hora da derradeira ida.

Noite, suabilíssima esquina

Do encontro dos cruzados cantando

Os feitos pelo Desconhecido,

Dos Marcos Polos de Chinas místicas,

Incrustadas nas almas felizes

De quem viu mais que o consentido.

Noite, Meca para os peregrinos

A Meca, com cantos langorosos

De todos os almuadens, síncronos,

Vagueando livres pela sombra;

Noite-Meca, todos os caminhos

Aportam fiéis a ti; conduzem,

Pela estrada de tudo por nada,

Sacrifícios de heróis da fé.

Noite: aeroporto onde aviões

Alçados pela asa imaginária

Chegam a ti, trazendo personagens

De todos os rincões onde haja

Gente capaz de ousar o vôo

De aventura do espírito humano.