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soltam-se-me as palavras

que sejam macias as palavras

que o pensamento flua com nitidez

que os sonhos sejam o leito onde me deito

que as utopias sejam a minha doce razão

que as saudades sejam a química para amar

que o coração bata ao compasso da liberdade

todo o corpo tem movimento

todos os sentidos despertos e prontos para me guiarem na escuridão

embebedo-me do ar que respiro

mesmo perante o sufoco das horas que se esvaem

correm apressadas numa maratona do tempo

clique, cloque

o ponteiro voa

plof

o presente já não o é

o futuro foi-se

mas que som é este

medidor do tempo por que obra?

terá um segundo que o ser?

clique, cloque

os nervos à flor da pele

tenho que correr mais que o ponteiro

para acertar o meu próprio tempo

ele finda num número que eu não sei

que ficará registado num punhado de terra

e nem esse nada de terra será meu

porque não tem malmequeres

meu amor, por que arrancas o malmequer da terra?

depressa morrerá nas tuas mãos

o tempo conta

o ponteiro do relógio em constante animação

frenético

conta-me histórias de malmequeres eternos

diz-me que as flores nos escutam

que choram que sorriem

diz-me que os homens choram e sorriem

com verdadeira emoção

que não arrancam malmequeres da terra

diz-me que as palavras não se pronunciam

que os olhos e as mãos e todo o corpo são palavras

que a comunicação é muito mais que lábios que murmuram

diz-me palavras doces

emociona-me

chora e sorri

onde está a essência da matéria?

os vermes estão prestes a devorar a carne apodrecida pelos ponteiros do relógio

e o que fica?

nada rigorosamente nada

lunapensativa
Enviado por lunapensativa em 08/05/2005
Código do texto: T15692