outono II
o dia esta envolvido por um cinzento nostálgico
há minutos chovia torrencialmente
as vidraças do bar onde tomo habitualmente café ficaram preenchidas de gotículas que escorriam docemente de encontro ao soalho de madeira
gosto que chova assim quando estou abrigada a contemplar
no mar os relâmpagos proclamam a chegada do outono
há um perfume a humidade e ao respirá-lo fico com a sensação que estou viva
que sou mais que esta carcaça que vem deambulando sem rumo certo
arrastando um conjunto de ossos articulados
como que suspensa em fios de pesca que alguém maneja a bom gosto
o céu continua a derramar lágrimas
que tristeza assola este lugar onde me refugio
acordo quase sempre com a sensação que não sou gente
mas desta vidraça
ao contemplar o mar
sou evadida por uma vontade de virar o mundo ao avesso
mas não sou deus
apenas uma gota do oceano