Delírio

Disse adeus às estrelas e dormi.

E elas foram inspirar outros vates...

No oceano dos sonhos me perdi,

Navegando em busca do país das artes.

Então o mar contra mim se voltou,

Por despeito, ou talvez foi por ciúmes,

Grandes vagas contra mim levantou,

Porém fui protegido pelos Numes.

Conduzido por deuses, logrei eu

Alcançar bela ínsula do mar.

Deparei-me com Filha de Nereu,

Cuja celsa beleza faz pasmar.

Eu, parado, sem poder falar,

Pois seu olhar azul me enfeitiçou,

Pude apenas ouvi-la balbuciar,

Perguntando de onde vim ou quem sou:

-- Que procuras, grandíloquo poeta,

Tu, que escreves tão tristes elegias?

Que desejo tão grande te inquieta,

Que aqui nada mais há que fantasias?

-- Busco beber das águas de Parnaso,

Receber sua divina inspiração,

Porém, já que encontrei-te por acaso,

Quero apenas ouvir a tua canção.

Mas de súbito o mar me arrebatou,

Fui lançado no mundo da razão.

Mas até agora embriagado estou

Pela lembrança daquela visão.