Tango

Foi quando nossas pernas se entrelaçaram,

Através da fenda de seu vestido rosa-pó,

Que percebi o desejo e a delicadeza,

A escorrer pelo seu corpo descomposto.

E foi ao fustigar meu corpo com o seu,

Que percebi o sentido dos dentes cravando a presa,

A distensão de músculos perante o esforço,

E a suavidade dos momentos de menos força.

Esse perpétuo estado de movimento insinuante,

Trouxe o azedo em forma de grito lancinante,

E o doce da fala quase sem sentido após a dança.

Amarrados sobre o chão, com laços tão diáfanos,

Decidi que aquela era a hora de parar,

Para recolher os despojos e estragos da dança.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 15/05/2006
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