Tango
Foi quando nossas pernas se entrelaçaram,
Através da fenda de seu vestido rosa-pó,
Que percebi o desejo e a delicadeza,
A escorrer pelo seu corpo descomposto.
E foi ao fustigar meu corpo com o seu,
Que percebi o sentido dos dentes cravando a presa,
A distensão de músculos perante o esforço,
E a suavidade dos momentos de menos força.
Esse perpétuo estado de movimento insinuante,
Trouxe o azedo em forma de grito lancinante,
E o doce da fala quase sem sentido após a dança.
Amarrados sobre o chão, com laços tão diáfanos,
Decidi que aquela era a hora de parar,
Para recolher os despojos e estragos da dança.