Carcará

Teus olhos profundos, minha amada

Jamais eu hei de esquecer!

E em meus sonhos hei de os ver

À flor de toda madrugada

Teus olhos! Jardim a florescer

Teus olhos cortantes, espadas!

E hoje, silente em teu leito

Ainda és minha deusa esculpida

Que se de toda beleza despida

Sobra-te beleza, a despeito

Do mal a encerrar a tua vida

Da dor a pesar em meu peito!

Os teus lábios eram doces rosados

Que os meus beijavam beijos sem fim!

E exalavam um olor de jasmim

Dois rios, sedosos, selados.

Teus lábios! Morangos carmim,

Teus lábios, hoje desbotados.

E agora, beirando a tua morte

Desabo somente em fitar-te

E meu peito rasga-se em partes

E meu coração quase explode!

Que essa paixão que me abate

Atira-me ao nada, sem norte!

E aqui, sinto-me qual um carcará!

Que, à espera da morte, assiste

O teu fim, lento, doce e triste

A hora em que me deixarás.

E se hoje teus olhos abriste

Amanhã já não mais abrirás.

- E eu hei de esquecer-te...

Jamais

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 26/04/2009
Código do texto: T1560278