Saudades de Lá de Casa
Ah, tempos áureos, memoráveis!
Preocupava-me menos e melhor.
Divertia-me em trotes ligeiros
Sobre lombo confortável,
Respiração ofegante,
Movimentos ousados.
Suava o corpo quente,
Sob a última fria neblina
De um sábado qualquer,
Por entre o capim tombado
Ao lamber das foices sedentas.
Balançávamos pendurados perigosamente
Aos bruscos trancos e solavancos
Da carroça descuidadamente carregada,
Por forcadas desengonçadas,
Feita um morro pontiagudo, sem recosto.
Refrescava-me à beira da lagoa.
Sol baixo, água à cintura,
Traíras enlouquecidas
Pelos restos ébrios de lambaris
Em uma dança insana na taboa.
Agora, nos sítios, paira o silêncio,
Daqueles que se foram ou desistiram.
Não há quem coma o capim,
A carroça está empoeirada,
As traíras esquecidas.
A vida evoluiu, se sofisticou.
Entre concretos e fumaças,
Apenas minhas lembranças
De uma vida que já foi plena.
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