Aos espíritos livres
Um certo desespero me afeta.
Sempre assim ele se fez.
E eu caminho desde sempre pelas ruas
cheias de espíritos presos em seus arrependimentos.
E desde sempre senti cheiro de esgoto.
Vivemos o império da mediocridade.
Porém, na impulsão há sinceridade.
E é por vezes a dor que nos traz a alegria.
Comendo carambolas eu percebo o quanto
deixamos de ver as estrelas...
No rotineiro olhar-se, nem para o chão,
simplesmente ignorar-se.
... escória!
Entre os peixes existem muito mais cores.
E entre as tribos livres de legislação.
Também na dança, no riso e no choro compulsivo.
Até na morte há mais cores.
E eu continuo comendo carambolas.
Enquanto um grupo de crianças constrói castelos de areia.
Eu não sonho com casas.
Sonho com barcos e castelos de areia.
Como também desejo um sem número
de todo tipo de sensações.
Excepcionalmente diferentes de uma novela.
Eu não desejo sapatos. Desejo asas.
Para voar como Ícaro.
Um deus esquecido num Olimpo de fracos.
Para andar na terra meus pés já bastam.
Só eles podem realmente sentir a umidade hipnotizante da terra.
E para me aquecer busco um abraço.
E não casacos de couro.
Já me bastam também as couraças dos medrosos.
Quanto asco, a estupidez!
Embora saiba que pequenos somos todos.
Mas escolhemos nisso não pensar.
E é por isso que faço um livre poema aos amantes
e uma ode aos profundos!
É também por isso que celebro as tempestades,
o sangue, a melancolia dos românticos e obscuros.
Assim como as vísceras de um sol radiante,
a profundidade do mar e o bater de asas das borboletas.
Eu não quero dias nublados e sem vento. Indiferentes.
Sonho com todos os pássaros soltos!