O LIVRO

Sou sanguessuga voraz que suga

Das brancas folhas os negros caracteres,

E como tenaz garimpeiro me debruço,

Para garimpar tantos tesouros escondidos.

E quando sinto, do querer saber, a punhalada,

Estanco, num átimo, o sangue sofregamente

Entre as linhas, que são finas iguarias

De banquete regado a vinho do conhecer.

Nave que me transporta pelo universo,

Professor que me ensinou a fazer verso,

A questionar a dualidade céu/inferno,

Milenar história que jamais findará.

Dourada chave que abre meu horizonte,

Que me fez, quando menina, chorar

Com a pobre Cinderela no borralho

Presa pela mulher de mau caráter.

Nele não há tédio, só movimento, ação,

Emoção que embriaga e faz pensar...

É um monstro dos milênios cruel e delicado,

Amigo, companheiro, um querido irmão.

Dedo que aponta da sociedade a injustiça,

Voz que pela paz solta estrondoso grito

Que vive e ecoa por trás de cada escrito

Do LIVRO, ouro que nenhum gatuno quer.

26/10/03.