Elegia
As quatro mãos brancas,
Não se permitem o movimento.
As quatro mãos brancas,
São as palavras quase perfeitas,
Que eu gostaria de ter inventado.
São dois seres impassíveis,
Diante de uma mesa velha.
As toalhas por sobre a mesa,
Mentem ao espectador sua brancura.
Luminárias de pouca valia,
Emprestam sua parca luz
Ao ambiente congelado.
Então vem a chuva.
E os respingos por entre as frestas,
Dão vida às quatro mãos brancas.
A vida é um sempre partir,
Um sempre morrer um pouco.
E a mesa é o centro do mundo,
Onde as velhas mãos petrificadas,
Movem peças de um xadrêz,
Que é a vida.
Contenção de palavras,
Economia de sentimentos,
Matemática sonora e bélica.
Muitas trilhas passam por aqui.
Envenenado pelo absinto,
Observo no canto escuro da sala,
Um não acabar de vestidos flutuantes,
De casacas ôcas ambulantes,
Tentando encontrar nos pingos de chuva,
A resposta para quatro mãos brancas,
Que não fazem sentido algum.
A maldade permite ao espírito,
O conhecimento da beleza do dia.
Um dia de chuva. Um dia de funeral.