Elegia

As quatro mãos brancas,

Não se permitem o movimento.

As quatro mãos brancas,

São as palavras quase perfeitas,

Que eu gostaria de ter inventado.

São dois seres impassíveis,

Diante de uma mesa velha.

As toalhas por sobre a mesa,

Mentem ao espectador sua brancura.

Luminárias de pouca valia,

Emprestam sua parca luz

Ao ambiente congelado.

Então vem a chuva.

E os respingos por entre as frestas,

Dão vida às quatro mãos brancas.

A vida é um sempre partir,

Um sempre morrer um pouco.

E a mesa é o centro do mundo,

Onde as velhas mãos petrificadas,

Movem peças de um xadrêz,

Que é a vida.

Contenção de palavras,

Economia de sentimentos,

Matemática sonora e bélica.

Muitas trilhas passam por aqui.

Envenenado pelo absinto,

Observo no canto escuro da sala,

Um não acabar de vestidos flutuantes,

De casacas ôcas ambulantes,

Tentando encontrar nos pingos de chuva,

A resposta para quatro mãos brancas,

Que não fazem sentido algum.

A maldade permite ao espírito,

O conhecimento da beleza do dia.

Um dia de chuva. Um dia de funeral.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 13/05/2006
Código do texto: T155363