DE VENENO A BOCA ARDE

Miserável pecado me enche a boca de veneno

Mísera carne m’impede de sonhar

Estou morrendo de rancor da vida

Da biologia

Do cosmos

Do universo

Para que esta alma jovem?

Este pensamento quente como as areias do mais impiedoso deserto?

Por que corcéis negros se danam na imensidão?

Não consigo alcançá-los

Perscruto tuas mãos

Passo por cima da pele um sopro primaveril

Eu te esconjuro, pecado

Eis que o sonho da beleza se posta ante meus olhos

Quero a estátua para poder olhar indefinidamente

Sem ser olhada

Poder tocar

Até beijar...

Escondida no templo de Apolo esperarei a madrugada

E celebrarei o culto ao fetichismo

Sem que jamais saibas

Cortarei tua cabeça e a entregarei na bandeja

Ao buraco negro da minha insensatez